Projeção
De acordo com o Ministério do Planejamento, até 2021, o quadro de servidores vai cair quase pela metade. Existem atualmente 633.902 funcionários civis ativos. Desse total, 107.567 recebem abono de permanência, ou seja, são aposentados que continuam trabalhando (a maioria nos ministérios da Saúde, Fazenda e no INSS). Além desses, 201.795 estão em condições de se aposentar nos próximos três anos (29.092 até maio de 2019; 32.550 até maio de 2020; e 32.586 até maio de 2021). Somando-se os 107.567 com abono aos 201.725 que poderão vestir o pijama, o quadro dos ativos cai 48,80%. Em 2021, serão apenas 324.540 ativos.
Sem detalhes sobre como o enxugamento da máquina se dará, especialistas temem queda na qualidade dos serviços à população. “Efetivamente não vai ser possível fazer atendimento de forma satisfatória com esse número reduzido de pessoas na administração federal”, afirma Emerson Casali, especialista em relações de trabalho. Diante desse quadro, Casali acredita que o novo governo encontrará um meio de sanar o dilema, “nem que seja na forma de incentivo para que as pessoas trabalhem por mais tempo”.
Como o foco da reestruturação é equilibrar as contas públicas, o diretor-geral da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, é não “distribuir maldades”. Para ele, o ajuste fiscal precisa centrar na extinção de privilégios. “Para os governistas, tudo deve ser aprovado; para os oposicionistas, tudo deve ser reprovado. O consenso é quase impossível. A discussão das reformas envolve a redução de privilégios e não é popular. No Brasil atual, privilégio é uma vantagem que os outros usufruem. Nos casos pessoais, são sempre direitos adquiridos”, ironiza. Castello Branco destaca que, sem o reequilíbrio das contas públicas, o país se tornará ingovernável e a administração pública entrará em colapso.
Na expectativa
Redução do número de ministérios e proposta de privatização de estatais deixam servidores em alerta sobre o futuro do serviço público
>> Estimativa para 2021
Há possibilidade de redução de 48,8% do quadro do Executivo
633.902
número atual de servidores ativos
107.567
recebem abono de permanência (ou seja são aposentados que continuam trabalhando)
201.795
estão em condições de se aposentar entre 2018 e 2021
324.540
número de servidores ativos em 2021 – caso essas condições se concretizem
>> Redução gradativa
Concursos não acompanharam o crescimento da população
1995 — No governo FHC, havia 1,1 milhão de servidores (ativos, aposentados, pensionistas) para uma população de 165 milhões de habitantes
2002 — Ainda na gestão FHC, houve redução de 200 mil cargos. O quadro caiu, então, para 900 mil servidores
2010 — No governo Lula, o Brasil retornou 1,1 milhão de servidores e a população saltou para 190 milhões
2014 — No de Dilma Roussef, a população brasileira era de 202 milhões de pessoas, 37 milhões a mais que em 1995, mas o número de servidores continuou igual
2015 — Havia previsão inicial, não concretizada, de mais 60 mil vagas serem preenchidas por concurso público
2016 — Com Michel Temer, os certames também foram cortados do Orçamento. A população brasileira ultrapassava os 207 milhões e a quantidade de servidores se mantinha em 1,1 milhão
2017 — O número total de servidores subiu para 1,270 milhão. A quantidade de habitantes chegou a 207,3 milhões
2018 — Houve crescimento populacional, para 208,4 milhões (0,82%), mas a expansão do número de servidores foi menor, de 0,47%, para 1,276 milhão
>>Principais ameaças aos servidores
. IN 2/2018 — Regulamenta a jornada de trabalho e do sistema de sobreaviso
. MP 849/2018 — Adia reajustes para 2020
. PLP 248/98 — Dispensa por insuficiência de desempenho
. PLS 288/15 — Estabelece critérios de mérito no Regime Jurídico da União
. PEC 400/14 — Remuneração variável com base no mérito em todos os níveis da administração
. PLS 116/17 — Perda do cargo público por insuficiência de desempenho do servidor estável
. PLS 710/11 e PLS 327/14 — Senado; e PL 4.497/01 — Câmara Regulamentação do direito de greve dos servidores
. PEC 139/15 — Extinção do abono de permanência para o servidor público
. PEC 287/16 — Reforma da Previdência
. PEC 400/14 — Critérios para remuneração variável a servidor da União, Estados e municípios
. PLS 280/17 — Fiscalização administrativa pelo setor privado
>> O que querem os servidores
. Cumprimento de todos os acordos assinados em 2015
. Reajuste de, no mínimo, 50% da contribuição da União para o plano de saúde dos servidores
. Política salarial permanente com correção das distorções e reposição das perdas inflacionárias
. Data-base em primeiro maio
. Direito irrestrito de greve e negociação coletiva no serviço público, com base na Convenção 151 da OIT
. Revogação da reforma trabalhista
. Revogação da proposta de reforma da Previdência
. Revogação da Emenda Constitucional nº 95/2016 e a Lei nº 156/2016
. Paridade salarial entre ativos, aposentados e pensionistas
. Condições de trabalho e financiamento
. Isonomia de todos os benefícios entre os poderes
. Isonomia salarial entre os poderes
. Incorporação de todas as gratificações produtivistas
. Fim da privatização no serviço público
. Liberação de dirigentes sindicais com ônus para o estado, sem prejuízo das promoções e progressões na carreira e demais direitos trabalhistas
Fontes: Ministério do Planejamento, Ipea, IBGE, entidades representativas de servidores federais, Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
Fonte:Correio Braziliense