A ideia de alguns deles inclui a divisão do salário
de parlamentar. Experiências já existem em Minas e Goiás
O
Mandátodos terá como candidato na urna Thiago Ávila (E), que disputará uma vaga
na Câmara Legislativa(foto: Antônio Cunha/CB/D.A Press)
Transformar a velha política em mais voz para o povo. Essa é a principal função daqueles que pretendem erguer a bandeira do mandato coletivo. O método pode não ser inédito, mas é uma novidade para as eleições gerais, de outubro de 2018. Na urna, o sistema não muda: aparece apenas uma foto e um nome, como de costume. Mas, por trás do mandato, e daquele “político cabeça”, a ideia é que um coletivo de pessoas decida, em conjunto, tudo o que será feito nos próximos quatro anos.
O sistema parece igual a outros mandatos, cujos
políticos têm o apoio de assessores e parlamentares para ajudá-los nas decisões
e estratégias. Mas, há uma série de diferenças propostas pelos grupos de
mandatos coletivos. Uma delas é que, nas votações, por exemplo, o grupo
faça uma roda de conversa para decidir sobre determinado assunto. Sairá
vitoriosa a decisão da maioria, mesmo que seja contrária à opinião do
“candidato oficial”. Em alguns casos, os grupos podem até dividir o salário
político entre os participantes.
O assunto não é novo. Em 2016, um grupo de cinco
amigos ganhou uma vaga para vereador no município de Alto Paraíso (GO). João
Yuji (PTN-GO) foi eleito para a Câmara Municipal, mas ele apenas representava
os outros quatro nas urnas. No dia a dia, todas as decisões são tomadas em
conjunto. O grupo escreveu um contrato com todas as normas do mandato coletivo
e segue o modelo desde então. Já em Minas Gerais, o coletivo “Muitas”, o
qual integram duas mulheres, assumiu também o mandato de vereadoras.
Para as eleições de 2018, o Correio mapeou quatro
grupos que já estão montando estratégias para as campanhas coletivas. A maioria
é ligada a partidos de esquerda. O “Cidadanista”, em São Paulo, pleiteia
uma vaga de deputado federal na Câmara dos Deputados; o Feminista, em
Pernambuco, para a Assembleia Legislativa do estado; o Conjunto 18, também em
São Paulo, para vaga de senador; e o Mandátodos, no Distrito Federal, para
deputado distrital. Esta é a primeira vez que a capital federal terá uma
candidatura coletiva para um cargo. E se os outros forem eleitos, será a
primeira vez de coletivos também dentro do Congresso Nacional.
O Correio conversou com dois dos
quatro grupos para saber mais sobre as propostas do coletivo, e como eles irão,
na prática, funcionar. O Mandátodos é formado por quatro integrantes: Airy
Gavião, Eduardo Borges, Nádia Nádila e Thiago Ávila, o candidato oficial,
filiado ao Psol. O nome na urna, no entanto, será do grupo, já que a Justiça
Eleitoral permite nomes sociais na disputa.
Representatividade
O que os uniu foram as pautas em comum, em favor
das minorias. A aliança liga interesses dos movimentos sociais, indígenas,
raciais e feministas. Para eles, há uma crise de representatividade que foi
exteriorizada nas manifestações de junho de 2013. Por isso, a proposta é uma
“substituição do atual desenho político” de transformar a visão do parlamentar
com alto salário e cheio de privilégios. “A pergunta é: por que não? Por que
não ocupar a mesma cadeira com todos representando os interesses do povo?
Queremos mostrar que é possível um deputado ganhar um salário justo e atender à
demanda colocada pela população”, afirma Borges.
No caso do
Conjunto 18, como o próprio nome diz, serão 18 integrantes do mandato coletivo,
que disputam uma vaga no Senado Federal pela Rede. O grupo ressalta que
acredita na transformação da política por meio da cocriação coletiva. Ou seja,
todos juntos. A ideia principal do Conjunto é a “despersonalização da
política”. Nesse caso, será uma tríade feminina (senadora 1ª e duas suplentes),
com rodízio durante o mandato. As três farão campanhas juntas, mas
compartilharão a gestão do mandato entre si e com mais 18 “cossenadores”,
maioria apartidários, que atuarão como assessoria de gabinete, e outros 1,1
mil, que apoiarão de outras formas. Os nomes da tríade serão decididos hoje. As
três senadoras e os outros 18 colaboradores participarão igualmente das
decisões estratégicas, mas as atribuições serão especificadas de acordo com as
responsabilidades de cada um. “Em comum, temos o compromisso com a agenda do
desenvolvimento sustentável. É urgente renovar os quadros e as práticas
políticas. Todos partilhamos dos princípios democráticos, da valorização da
diversidade, da superação da desigualdade social e da construção de um país
justo”, escreveram.
Fonte;Correio Braziliense
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