Fotos: Arquivo Pessoal
Um gesto de amor evitou a separação. Segundo a nova mãe, a criança mais velha sempre pedia que os irmãos não fossem separados.
Matheus Venzi
matheus.venzi@grupojbr.com
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Se adotar uma criança não é uma decisão fácil, imagine cinco de uma vez. Veranilda Oliveira Guimarães, 50 anos, e o marido, Adalberto Guimarães, 55, mudaram a vida de cinco irmãos que seriam separados. Maria Vitória, 14, Pedro Henrique, 11, Miguel, 8, Gabriel, 7, e Victor, 4, agora têm um lar e podem fazer algo que não conseguiam antes: sonhar.
Veranilda, ou Vera, como é conhecida, é diretora da Associação Brasileira de Ação Social Cristã (Abasc), uma espécie de braço social de uma igreja evangélica. O trabalho consiste em diagnosticar vulnerabilidades sociais em determinadas regiões do País e elaborar projetos para diminuir ou acabar com esses problemas. Na Cidade Ocidental (GO), o problema era evidente: os abrigos funcionavam como um “depósito de crianças”.
Por isso, Veranilda assumiu a Casa Lar Rebecca Jenkings, uma unidade prestadora de serviço que serve como um desses abrigos. “Quando cheguei, em 2015, a situação era triste. Várias crianças a um passo de completar a maioridade e sem nenhum tipo de perspectiva. Só com a ajuda da prefeitura da cidade e da Justiça conseguimos mudar esse cenário”, comenta.
Em meio a todo esse esforço para mudar a situação do abrigo, Vera conheceu os cinco irmãos. “Sempre que eles me encontravam, me abraçavam. A mais velha, Maria Vitória, sempre me pedia para não separar os irmãos. Eu compreendi que ela agia como uma espécie de mãe para os meninos, mesmo tão nova, e percebi que isso fazia com que ela deixasse de se permitir ser uma filha também”, relembra.
Depois de certo tempo, veio a má notícia: as crianças teriam de ser separadas. “É quase impossível achar um casal que adote cinco crianças de uma vez. Por isso, a ideia inicial era de separá-las para facilitar a adoção”, explica o juiz da 1ª Vara Cível de Família, Sucessões, Infância e Juventude da Cidade Ocidental (GO), André Rodrigues Nacagami. Ele se mostrou surpreso com a atitude de Veranilda.
Quando soube da separação dos irmãos, Vera logo falou com o marido, que tinha acabado de se aposentar como ferramenteiro. “Ele não pensou duas vezes. Disse para trazer as crianças, que queria criá-las”, conta a diretora da Abasc. Então, ela foi atrás do juiz responsável pelo caso, e o surpreendeu com a decisão. Atualmente, Vera possui a guarda provisória dos cinco e já está dando início ao processo de adoção definitiva.
A adaptação da nova família não foi tão simples. “Quando cheguei em casa com todos, percebi que o espaço era pequeno para aquele tanto de gente. Então tive que me mudar”, relembra. Vera e Adalberto já tinham dois filhos e quatro netos. “Quando contei aos meus filhos sobre a adoção eles ficaram felizes por saber que outras crianças vão receber o mesmo carinho que eles tiveram na infância”, destaca.
De acordo com ela, a maior felicidade das crianças é se sentir parte da família. “O que eles mais querem é adicionar o nosso sobrenome. Até pediram para a diretora da escola para poder assinar nas provas. Agora elas têm um lar, uma família, e poderão se permitir sonhar, fazer planos para o futuro”.
Veranilda entre quatro de seus “novos” cinco filhos; Casal conheceu crianças em abrigo onde a mulher prestou trabalho.
Justiça pelo bem da infância
A adoção dos cinco irmãos não foi a primeira história difícil, mas com final feliz que o juiz André Rodrigues Nacagami teve de enfrentar. Logo que chegou a Cidade Ocidental e assumiu a 1ª Vara Cível de Família, Sucessões, Infância e Juventude, ele se deparou com o caso de Maria (nome fictício), que na época tinha 15 anos e já estava há 11 anos morando em abrigos.
A mãe da menina era viciada em crack e ela era uma criança com personalidade forte. “Em casos como o dela a adoção é muito complicada. A maioria dos casais prefere crianças mais novas”, admite. Maria logo completaria a maioridade e seria jogada ao mundo, despreparada e desprotegida.
Mas o empenho e a persistência do juiz fizeram a diferença. “Eu não fiquei parado. Corri atrás de soluções, e, quando você se esforça, milagres acontecem”, garante Nacagami. A uma semana de completar 18 anos, Maria foi adotada por um casal do Distrito Federal que se interessou por sua história.
“Eles a conheceram e levaram para passear. Depois, passaram férias juntos. Agora, poderão viver juntos como uma família. Essa é a prova mais concreta de que nós podemos mudar os destinos dessas pessoas. Uma criança que estava fadada ao abandono, às drogas e à prostituição agora possui mais do que um simples lar ou uma família. Ela possui um futuro”, destaca.
Vulnerabilidade
No Abrigo Rebecca Jenkings, onde os cinco irmãos foram adotados, a assistente social Jane Santana revela a reação das crianças ao chegarem lá. “Por causa da situação de vulnerabilidade, esses jovens encaram um cenário de violência e de drogas como algo normal. Por isso, eles têm um estranhamento inicial”, explica.
No Abrigo Rebecca Jenkings, onde os cinco irmãos foram adotados, a assistente social Jane Santana revela a reação das crianças ao chegarem lá. “Por causa da situação de vulnerabilidade, esses jovens encaram um cenário de violência e de drogas como algo normal. Por isso, eles têm um estranhamento inicial”, explica.
Os meninos e meninas só vão se soltando com o tempo. “Por mais que a gente dê carinho, amor e atenção, Nada se compara com uma família. Por isso é tão importante encaminhá-las a um lar”.
Fonte:Jornal de Brasilia
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