Segmento conta com dois senadores e dois deputados federais, além dos deputados estaduais mais bem votados
Durante o período de campanha, diversos candidatos intensificaram as peregrinações na tentativa de conquistar o apoio de comunidades evangélicas. Com a ajuda dos fiéis, Vanderlan Cardoso (PP), da Assembleia de Deus, foi o senador mais bem votado, com 1.729.637 votos, equivalente a 31,35%.
Com a eleição do senador Ronaldo Caiado (DEM) ao governo de Goiás já no primeiro turno, os evangélicos ganharam mais um representante no Senado, o primeiro suplente do democrata, Luiz Carlos do Carmo (MDB), também da Assembleia de Deus.
Além disso, o segmento religioso conta com os dois políticos mais mais votados para a Assembleia Legislativa: Henrique César (PSC) e Jefferson Rodrigues (PRB). Para a Câmara dos Deputados, em Brasília, outros dois reopresentantes evangélicos foram eleitos com votações expressivas: Glaustin da Fokus (PSC) e João Campos (PRB).
De acordo com o levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, houve um crescimento da população evangélica no País. Os números atestam que a quantidade de seguidores subiu de 15,4% para 22,2% entre 2000 e 2010. Para além dos percentuais, os dados representam um crescimento de aproximadamente 16 milhões de pessoas.
Paralelo a essa análise, o instituto Datafolha aponta que o maior número de evangélicos são frequentadores de igrejas como a Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Congregação Cristã e Quadrangular do Reino de Deus. Do total, 34% pertencem à primeira.
Tendo como base as estatísticas do estudo, vale observar que o candidato eleito com o maior número de votos para o Legislativo estadual, Henrique César, pertence à igreja com o maior número de fiéis.
O segundo colocado, por sua vez, é Jeferson Rodrigues. Ele pertence à segunda, entre as igrejas apontadas pelo Instituto, com o maior número de seguidores: a Igreja Universal do Reino de Deus. Juntos, somam um total de 92.150 votos. De baixo para cima na lista dos eleitos, esse número supera a quantidade de votos arrecadados pelos seis últimos nomes, que contabilizam 86.006 votos.
Obviamente, nem todos os votos dos candidatos representam, de fato, o voto evangélico. Porém, se tratando de dois líderes religiosos, vale considerar que diversos cristãos desta orientação almejam ampla representação na Casa de Leis. Essa expressividade demonstra o quão grande é a força dessas instituições, bem como seu poder de influência nos espaços de decisão do País.
Nesta eleição, Henrique César obteve 46.545 votos, o que representa 1,51%. O cristão é cantor gospel e genro do pastor Oídes José do Carmo, um dos religiosos mais respeitado de Goiás. Oídes é conhecido entre os evangélicos por ser um dos maiores líderes da Igreja Assembleia de Deus no Estado.
O apoio dos evangélicos durante o período eleitoral foi fundamental para eleger o candidato, uma vez que ele trabalhou diretamente com esse público específico. O parlamentar defende bandeiras em defesa da família tradicional e atesta que atua “contra o aborto, em prol da ética, moral, honestidade”, além de outras pautas de interesse social.
“As pessoas querem mudança. Por isso, constroem oportunidades para novos políticos ocuparem esse cenário.” Henrique César diz que há anos viaja pelo Estado para cantar e pregar em diversas igrejas. “Nesse período de campanha, visitei igrejas de amigos que já me conhecem, sabem da minha índole e das minhas origens. Não tive grandes dificuldades de transitar pelo Estado.”
O deputado estadual eleito afirma que não pretende representar apenas o segmento evangélico dentro da Assembleia Legislativa, mas sim todo o povo goiano. “Para isso, quero trabalhar junto ao governo na tentativa de trazer benefícios de modo geral.” Ele, que já assumiu uma cadeira na Casa por ser suplente de deputado na legislação vigente, afirma que hoje se sente mais preparado e maduro diante dessa responsabilidade. “O povo me proporcionou uma votação que, sinceramente, não esperava. Isso só aumentou a minha confiança e responsabilidade.”
Jeferson Rodrigues (PRB), que foi reeleito ao cargo, compartilha ideais semelhantes às de Henrique César. Ele diz acreditar que uma nobre causa e um conjunto de pensamentos em defesa da fé e da família “é maior do que qualquer nome político”. Em seu segundo mandato, o parlamentar pretende intensificar a defesa de temas que representam os interesses dos goianos, sobretudo as famílias.
“Os cidadãos querem que a família tenha seus guardiões na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa. Hoje, tenho uma responsabilidade muito maior com essa pauta, especialmente pela quantidade de votos que recebi.” Para ele, a sociedade demonstrou nas urnas o caminho a ser seguido durante os próximos anos. “Sabemos que o Estado tem muitas demandas e não seremos omissos a isso. Se servimos ao próximo, servimos a Deus, à família, e às pessoas de bem.”
Para os próximos quatro anos de mandato, o líder religioso reforça que será um “servo e cooperador da obra de Jesus Cristo no parlamento”. “Em Salmos 132, versículo 4 está escrito: ‘não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras’. Assim farei.”
Deputados federais
O presidente estadual do PRB, deputado federal João Campos, disputou a reeleição e obteve 106.014 votos. “O povo reconheceu o meu trabalho e me deu a oportunidade de continuar defendendo as mesmas bandeiras no Congresso.” Para ele, sua eleição se dá a partir de diversos segmentos organizados da sociedade goiana e não somente da comunidade evangélica. Porém, o parlamentar reconhece a importante contribuição desse segmento para sua reeleição.
“Estamos falando de um conjunto expressivo da sociedade. A cada eleição, os evangélicos têm adquirido mais consciência política e mais clareza da responsabilidade que possuem junto aos Estados e o País.” Ele diz acreditar que o ativismo por parte das comunidades cristãs ajuda na superação de antigos conceitos e, sobretudo, “mostra que eles devem contribuir, participar e exercer a sua cidadania.”
Como representante de diversas igrejas e também de todo o povo goiano em Brasília, João Campos analisa que os políticos evangélicos se dispõem a representar o povo como um todo e não somente os seus segmentos. “Suas crenças e princípios são usados em prol do coletivo. Temos os nossos valores como principais parâmetros, mas não estamos limitados a eles. Portanto, estaremos sempre prontos para debater diversos assuntos de interesse social nas instâncias de Poder.”
Já o empresário Glaustin da Fokus pleiteou pela primeira vez o cargo para a Câmara dos Deputados. Apesar de possuir forte ligação com a igreja evangélica, o empresário também contou com o apoio de outros setores, especialmente dos comerciantes, empresários e empreendedores. Mas, apesar de amplo o leque de apoiadores, Glaustin considera decisivo o apoio dos evangélicos para sua vitória no processo eleitoral.
Ainda que seja sua primeira experiência, o empresário obteve mais de 100 mil votos e, para honrá-los, afirma que, inicialmente, irá focar sua atuação na defesa da família, educação, geração de emprego. Na visão de Glaustin, é preciso entender que o segmento evangélico não busca uma “tomada de poder”, apenas deseja participar, de modo legítimo, da tomada de decisões que impactam a sociedade.
O novo deputado federal acredita que o PSC possui um bom relacionamento com a comunidade evangélica e isso favoreceu a apresentação de suas ideias e propostas à comunidade. Apesar da grande aceitação do segmento, Glaustin assegura uma atuação amplamente representativa. “Buscarei uma vida mais digna para os goianos e brasileiros. Quero fomentar a geração de emprego, ser um defensor intransigente em favor da moralidade pública, na defesa da ética e contra a corrupção que consome o nosso dinheiro.”
Ocupando a primeira vaga da suplência da coligação Goiás Avança Mais I, o tucano Jean Carlo também reconhece a importância do apoio dos evangélicos. “O segmento almeja uma representação nas Casas Legislativas e foi isso que me dispus a fazer. Há muitas questões ligadas ao segmento religioso que dependem de representação parlamentar, mas acredito que os eleitos farão a defesa de cada uma delas.”
Ele atesta que, durante sua campanha, contou com o apoio de algumas Assembleias de Deus e da Igreja de Cristo. “Apresentei aos evangélicos bandeiras relacionadas à preservação da unidade familiar, mas respeito as diferenças e os diversos tipos de comportamento.” Apesar do resultado, o tucano garante que continuará mantendo seus ideais e compromissos com o segmento.
Outro nome conhecido pelos religiosos é o do deputado federal Fábio Sousa. Ele é uma das principais lideranças religiosas do Estado e foi candidato à reeleição pelo PSDB. Durante sua campanha, o parlamentar afirmou que muitas igrejas estavam ao seu lado. No entanto, o candidato não obteve o resultado esperado após a abertura das urnas. “Trabalhei muito, sei que tive bons apoios ao longo da minha empreitada, mas faltou voto. Me submeti a vontade dos eleitores e, se eles escolheram assim, eu os respeito.”
Apesar de não ter sido eleito, seus 67.130 votos renderam a vaga de segundo suplente da coligação Goiás Avança Mais I. O tucano lamenta o resultado, mas reconhece o potencial do voto evangélico para todas as candidaturas do segmento. “Prova disso são os resultados expressivos obtidos dentro do processo eleitoral. Tomemos como exemplo o apoio dado à candidatos como Jair Bolsonaro [PSL] e Ronaldo Caiado [Democratas]. Ambos possuem ampla aceitação”, ressaltou.
Fábio Sousa acrescentou que acreditava na reeleição do deputado federal João Campos (PRB) por ser um parlamentar “forte, respeitado e reconhecido”. “Tinha certeza que ele seria eleito graças a sua expressividade no meio político.” Quanto a Glaustin da Fokus, o tucano disse que, apesar de não conhecê-lo, avalia o candidato como um homem “aguerrido”.
Sobre os seus próximos passos na política, Fábio Sousa assegura que pretende terminar seu mandato com dignidade e seguir sua vida. “Não sei se futuramente voltarei a disputar o cargo. Sou um homem de fé e coloco minha vida e futuro nas mãos de Deus.”
Voto fiel
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Robert Bonifácio destaca como principal característica do segmento a fidelidade dos irmãos de fé. “Eles costumam ser extremamente leais aos nomes apontados por seus líderes. Isso nos mostra quão importante pode ser estar vinculado à uma igreja e ter o poder de representar aquele povo.”
Na visão do cientista político, a igreja ainda exerce grande influência nas escolhas de seus membros em diversas arenas da vida e uma dessas áreas é a eleitoral. Porém, o professor alerta para a importância de não generalizar esse raciocínio. “Há igrejas que sequer abordam essa questão. Por outro lado, há outras que se preocupam em conquistar cada voto de seus membros”, frisa.
Robert Bonifácio afirma que a onda conservadora, característica do momento em que vivemos, é extremamente favorável à candidatura de alguns perfis sociais, como líderes religiosos, militares e subcelebridades. “Essas personalidades tendem a ser beneficiadas por essa onda, tendo em vista que normalmente compactuam das mesmas propostas.”
Fonte:Jornal Opção
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