domingo, 6 de dezembro de 2020

Desafios-- Economia em 2021: O que empresários esperam para o próximo ano

 No cenário pós-pandemia, a maioria dos empresários possuem boas projeções para crescimento e regularização da atividade econômica


Por Marcos Aurélio Silva

Ainda não acabou a crise sanitária do coronavírus. E seus impactos severos na economia mundial serão sentidos por muito tempo. Mas o empresariado brasileiro não se deu por derrotado nem mesmo nos piores momentos da pandemia e, diferente do que muitos imaginam, há forte otimismo para 2021. 

Este ano ficará marcado também por conta da menor atividade econômica ocasionada pela quarentena, desemprego, queda do PIB, desvalorização do câmbio e aumento dos gastos públicos. Mas uma percepção do empresariado é que, além da capacidade de se reinventar, a crise proporcionou aprendizado.

Assim como foi em 2020, muito do cenário econômico de 2021 será ditado pela Covid-19. É preciso considerar as novas ondas da pandemia, a vacinação, medidas de enfrentamento ao vírus. Mas há um otimismo presente entre diferentes segmentos, que esperam uma retomada forte e com medidas governamentais que guiem o País nessa reação da economia.

“Para curto e médio prazos temos uma perspectiva positiva em praticamente todos os setores da economia. Sabemos que é um caminho difícil para retomada aos patamares da economia como antes da pandemia, mas estamos muito confiantes na recuperação. Os números têm mostrado isso. É importante apostar no otimismo.” A avaliação é do presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial da Região Leste de Aparecida de Goiânia (Acirlag), Maione Padeiro, que tem acompanhado de perto as demandas empresariais.

Jornal Opção falou com empresários de diferentes segmentos sobre as perspectivas para 2021. Veja quais são as expectativas.

Agronegócio

O agronegócio goiano continua a se destacar nos cenários nacional e internacional ao levar alimentos a países de vários lugares do mundo. Cerca de 80% das exportações em Goiás partem do agro. O Estado é responsável por mais 10% da produção nacional de grãos e, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui o segundo maior plantel de bovinos do País, com quase 22,8 milhões de cabeças.

Apesar da pandemia, o mercado não esteve ruim para o agronegócio. A expectativa é de que em 2021 possa ter melhoras. Renato Costa Junior é criador de gado nelore e vê com bons olhos as projeções para o próximo ano. “O mercado mudou de patamar para o agronegócio. Os produtos estão sendo bem remunerados pelo mercado, dando bons resultados para o produtor”, diz.

Renato avalia que o movimento da economia mundial e a pandemia acabaram por gerar maior demanda para o agronegócio. “Deve se manter o preço das commodities de carne, leite, milho, soja, arroz e feijão. Todo esse patamar deve se manter aquecido, visto que vamos para uma demanda de mercado interno pós-pandemia”, aponta. “Já no mercado globalizado, com China entrando forte para repor estoques, além de todo o mercado mundial que sofreu escassez de comida, nos faz ter boas expectativas para 2021, frente a tudo que estamos produzindo”, conclui o produtor. 

Imobiliário

O setor imobiliário vinha de uma forte retomada após sofrer quedas por anos consecutivos. A pandemia fez parecer que seria mais um ano de baixas, mas se viu um movimento contrário que aqueceu o mercado e tende a se manter em 2021, segundo expectativas de empresários do setor. 

“Para 2021, o PIB deve crescer na faixa de 3 a 4%, mas para o mercado imobiliário deve ser ainda melhor. A taxa Selic está hoje na casa de 2%. Acreditamos que, pelas declarações do Banco Central, no ano que vem deve ficar entre 2 e 3%. A taxa de financiamento hoje está por volta de 5 a 7%. Estamos falando algo quase três vezes menor do que o pico vivido no setor, que foi 2013. A gente tem uma boa expectativa com a chegada de novos empreendimentos”, analisa Guilherme de Rezende Pinheiro, que é sócio-diretor da Elmo Engenharia e Incorporações.

A mesma confiança para o setor é exposta por Ricardo Teixeira, sócio-diretor da URBS Lançamentos Imobiliários. “Creio que 2021 será a continuidade do crescimento do mercado imobiliário em função da redução da taxa de juros, da demanda, que é orgânica, e a movimentação que tem no mercado imobiliário”, aponta. “Vamos ficar reféns de emprego e renda, mas finalizando a vacina contra a Covid-19, todo mundo tem a expectativa de crescimento. Resta saber a intensidade”, conclui.

Moda

Depois do agronegócio, a moda tem se consolidado como outra importante vocação econômica de Goiás. O setor mostra força mesmo em meio à crise econômica. Só na Grande Goiânia são mais de 30 mil indústrias de confecção.

O principal pólo é a região da Rua 44, que sofreu muito com a pandemia, mas que reabriu com adoção de regras e protocolos de segurança. Para 2021, a esperança é de que o setor retorne com força total. “A medida que a vacina está sendo discutida, e não se fala no tipo, mas em quando será aplicada, é uma esperança. Vai facilitar o comprador de outros Estados a frequentarem nossa região”, indica Chrystiano Câmara, superintendente do Mega Moda.

Segundo o empresário, o cenário para o próximo ano no setor de vestuário deve quebrar recordes. “Estamos otimistas para o ano que vem. Vamos ter em 2021 um ano superior a 2019, que foi muito bom para nós”, aposta.

Indústria farmoquímica 

Goiás é o segundo parque nacional na produção de medicamentos. Nas últimas duas décadas, o segmento começou a se destacar, principalmente no Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia). Cerca de 30 indústrias produzem remédios de marcas similares e genéricos, além de produtos para saúde e médico-hospitalares. 

De acordo com o empresário e presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas do Estado de Goiás (Sindifargo), Marçal Henrique, a expectativa para 2021 é de um crescimento de um dígito no setor – em torno de 5%. “O cenário não é muito animador e a confiança também não é boa”, declara. “Acreditamos que a situação da pandemia, se persistir a decretação do estado de emergência e sem o auxílio emergencial – um dos principais responsáveis pelo nosso crescimento de 7% no terceiro trimestre -, poderemos ter novamente um PIB negativo com um sério agravo no desemprego, que pode ultrapassar 15%”, aponta.

Marçal também se mostra preocupado com a letargia das reformas previstas na agenda governamental. “Se acabar a decretação do estado de emergência e o governo conseguir passar as reformas, principalmente a reforma tributária – diferente da PEC 45 ou a mesma muito melhorada – e a reforma administrativa que pegue inclusive os funcionários públicos já em função, pode ser que no segundo semestre consigamos ter uma economia positiva”, avalia.

Educação

As escolas particulares amargam prejuízos. Junto com o setor de eventos, é o segmento com maior demora para a retomada das atividades. No entanto, há um otimismo na educação para 2021. O professor Carlos André, empresário do ramo, avalia que este ano exigiu uma reflexão sobre o processo educacional no Brasil. “Precisamos pensar em como devemos usar as novas tecnologias para aprimorar o processo educacional. Foi um ano de muita aprendizagem e foi ano de investimentos”, descreve.

Para 2021, o professor e empresário diz que a receita é seguir em busca de avanços. “Será um ano em que aguardamos a aplicação mais organizada das novas tecnologias e, consequentemente, resultados melhores e robustos na educação. Existe uma esperança boa em relação à expectativa do empresário educacional. Tivemos que nos reinventar e isso foi positivo, pois as salas de aula eram parecidas com as do século XIX. A pandemia trouxe a necessidade de novas tecnologias em salas de aula. Creio que o ensino híbrido será mais comum a partir de agora”, defende.

Transporte

O setor de transporte de cargas por rodovias conta com 4 milhões de empregados diretos e 3,5 milhões indiretos. É um setor importante para economia nacional e goiana, principalmente no escoamento da produção agrícola. Por ter parte de sua operação atrelada ao agronegócio, o setor também vislumbra boas perspectivas para 2021.

O empresário do setor de logística, Osvaldo Zilli, dono da transportadora Transzilli, se mostra muito confiante na economia. “Ninguém tem bola de cristal, são suposições. Mas por acreditar muito no trabalho, estou otimista. Como a economia no Brasil tem se apoiado na agricultura – e com certeza a produção vai aumentar -, a área logística e de transporte ajuda a sustentar essa economia”, diz. 

Para o empresário, o setor de transporte deverá se manter aquecido em 2021. “A transportadora tem de fazer investimentos. São mais veículos, combustível, alimentação, mecânica, entre outros. Todo mundo ganha. A logística movimenta muito dinheiro e gera muito emprego. Seguirá assim em 2021”, espera Zilli. 

Turismo

Desde o começo da crise causada pela pandemia do novo coronavírus, um dos setores mais impactados foi o de turismo. Junto com as companhias aéreas, a rede hoteleira foi a primeira a sentir o baque das medidas de isolamento social. A expectativa do setor é de que haja aumento na procura por viagens a partir dos próximos meses, especialmente para os destinos nacionais.

Fernando Carlos Pereira é empresário do ramo. Proprietário do Hotel e Pousada Recando do Pai, em Trindade, além de presidir a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Goiás (Abih-GO), Pereira diz que, apesar das dificuldades, não se pode perder o otimismo. “O início do ano vai ser complicado. Os benefícios que foram negociados ou cedidos vão vencer e as contas vão chegar. Mas estamos otimistas com o turismo no geral, que pouco a pouco vai retomando”, pontua.

O empresário explica que a rede hoteleira depende de um conjunto de empreendimentos para funcionar bem. “Estamos falando em bares, restaurantes, eventos, voos… Tudo isso precisa estar liberado para que o turismo retome. Está havendo uma liberação paulatina, com os protocolos de segurança, isso favorece o setor”, enfatiza.

Alimentação

Quem lida com o ramo da alimentação também enfrentou muitas dificuldades neste ano. Restaurantes e lanchonetes foram fechados. Foi preciso se reinventar. E talvez tenha sido o setor que mais rápido se adaptou, principalmente com o crescimento das entregas por aplicativos. 

“As perspectivas são muito positivas para 2021. Nós tivemos um ano de 2019 muito forte e o início de 2020 também. Mesmo com a pandemia, conseguimos, por meio de aplicativos, manter nossas vendas em um bom patamar”, pondera Alfredo Lopes, diretor de franquias da Fast Açaí.

“Como estamos retomando com bastante velocidade, até antes do esperado, estamos bastante otimistas para o próximo ano. Tanto que não esperamos a virada para lançar uma nova linha de nossos produtos”, enfatiza Lopes.

Fonte: https://www.jornalopcao.com.br/

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