domingo, 30 de junho de 2019

Maioria é contra-- Guerra de Bolsonaro contra tomada de três pinos: proposta pode queimar popularidade do presidente

Guerra de Bolsonaro contra tomada de três pinos: proposta pode queimar popularidade do presidente

Associações e entidades espalhadas pelo país já se posicionaram contrárias à mudança. No entanto, presidente e assessores têm estudado medida

Uma ideia um tanto quanto polêmica do presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem  provocado grandes discussões nos últimos dias. Trata-se de um projeto que está em fase de elaboração e que pretende acabar com a exigência da tomada de três pinos.
A tomada de três pinos passou a ser obrigatória por força da Lei nº 11.337/2006, alterada pela Lei 12.119/2009. Desde então, toda nova construção precisa  um sistema de aterramento que permite que o terceiro pino cumpra seu papel e elimine excessos de energia acumulada. A medida, além de proteger equipamentos contra raios e oscilações de energia, também reduziu consideravelmente o número de acidentes com choques elétricos.
Já os aparelhos com dupla isolação, que não devem ter conexão de aterramento, são conectados com plugue de dois pinos. Entre eles, estão barbeadores, secadores de cabelo, carregadores para telefone celular, etc.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) entre os anos 2000 e 2010 registrava-se uma média de 1500 casos de choque por ano. A partir de 2010, a média anual caiu para cerca de 600 casos.
A Abinee, inclusive, já se posicionou contrária à mudança anunciada pelo presidente e classificou o projeto como um “retrocesso”. “Para a Abinee, a atual discussão é contraproducente. Isto porque o principal motivo para a implantação do padrão brasileiro foi eliminar a possibilidade de choque elétrico com risco de morte, o funcionamento inseguro com aquecimento e risco de incêndio, e as perdas de energia devido a conexões inseguras”, disse em comunicado divulgado.
Porque mudar?                                           
A proposta do Governo Federal não é acabar com a tomada de três pino, mas retirar a sua exigência e torná-la opcional. A mudança facilitaria a importação de produtos legalmente dos Estados Unidos e outros países, uma vez que a legislação atual exige que os plugues sejam adaptados para o padrão brasileiro.
Foto: Divulgação / Abinee
O Inmetro, pressionado pelo Governo, chegou a emitir nota técnica garantindo ser “viável a disponibilidade de outro  padrão internacional de tomada. A Abinee, no entanto, ressalta que não há hoje um padrão internacional estabelecido e que cada país preza por suas normas e suas características de mercado. Sendo assim, atualmente são mais de 110 configurações diferentes de tomadas.
Prejuízo
 Vale lembrar que a mudança da tomada de dois para três pinos em 2011 deixou muita gente em apuros. Mesmo que a decisão do Inmetro tenha sido tomada em 2000 com um longo cronograma de implantação, a medida trouxe problemas.
É o caso de Jorge André Filho, dono de uma loja de materiais elétricos. Ele lembra que na época da mudança ainda tinha grande estoque das tomadas de dois pinos e os produtos ficaram parados causando prejuízo, até que conseguiu fazer a troca junto aos fornecedores.
Com medo de não ter a mesma sorte dessa vez, ele já cancelou os pedidos de tomadas de três pinos que havia feito e agora compra apenas o suficiente para não deixar os clientes na mão. “A gente fica com receio porque nunca sabemos como as coisas vão acontecer. Fui contra a mudança para a tomada  de três pinos, mas acho que agora também não se deve mudar de novo. Já está todo mundo acostumado com as novas tomadas e mudança traria mais transtornos do que benefícios”
Consequências
Com a flexibilização das tomada, um velho conhecido dos brasileiros deve, novamente, roubar a cena: os adaptadores. Esse, aliás, é um dos problemas que a medida estudada por Bolsonaro pode ocasionar na visão do especialista. Para o engenheiro eletricista e conselheiro da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas – Seção Goiás (Abee-GO), Guilherme Fernandes,  a mudança pode favorecer no aumento de adaptadores “piratas”.
“Em caso da liberação de outros padrões já homologados internacionalmente e com o mesmo nível de segurança já utilizado, vejo como algo interessante. Iriam surgir novos produtos e aumentar o poder de escolha do usuário. Contudo, teríamos outro problema: os adaptadores ‘piratas’. A utilização de adaptadores não normatizados pela NBR 14136 são um risco para o usuário e instalações. Os mesmos geralmente são de baixa qualidade e não suportam a corrente nominal dos equipamentos, ocasionando danos à vida e/ou patrimônio”.
O engenheiro reforça a tese de que a adoção do terceiro pino além de ajudar na redução de ocorrências de choques já está difundido e bem aceito no país e que, portanto, sua extinção seria um retrocesso. “A extinção do terceiro pino terra vai contra as NBR e NRs e, se acontecer, estudos concretos seriam ignorados e a segurança dos usuários e instalações não estariam em primeiro plano”, finaliza.

Fonte:Jornal Opção

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